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Por amor e na luta por taça, meninas do Hóquei Recife encaram Brasileiro

Duas gerações, um motivo de respeito em quadra. Anny Fernandes, de 43 anos, envolve-se em mais uma preparação de olho no Brasileiro de Hóquei – a partir desta quinta-feira, em São Paulo. Com 14, Ana Júlia inicia uma caminhada inédita na vida esportiva, na mesma competição, distante de expectativas passadas. No momento, a responsabilidade da estreante e da veterana tem menos a pretensão do título. O objetivo maior é apontar, de novo, os holofotes para o hóquei pernambucano, no naipe delas. Entre outras com foco idêntico – por iniciativa própria e com paixão extra na bagagem -, as meninas não arredam pé da missão imputada. Nem adianta tentar.

A coisa é feita na coragem. A equipe do Hóquei Recife foi formada por rivais. Na quadra, em vez das duras batalhas nos campeonatos locais, uniram forças. Com o fim das atividades das poucas equipes femininas da cidade, a ideia tem a ver com a sobrevivência de um esporte tradicional dos lados de cá. Montaram o grupo, arrumaram espaço para os treinos – no caso, a quadra do clube Português -, a partir da disponibilidade de cada uma. O básico, com pouco dinheiro para voos maiores.

Com limitações financeiras e dedicação de sobra, iniciam a trajetória com uma referência possível. A conquista mínima, semelhante ao feito em 2018, é a segunda posição. Com a visibilidade, em caso de sucesso esportivo, garantem sobrevida delas mesmas no hóquei. E do próprio hóquei. Paixão sem limite.

Anny é uma porta-voz de respeito. Duas vezes vice-campeã mundial pela Seleção Brasileira. Com serviços prestados em outras ocasiões, num currículo rico de 27 anos. Ana Júlia é a esperança. Craque com o taco na mão, tão nova, já riscou a palavra covardia do dia a dia. Tem de ser assim.

O objetivo envolve outras personagens, com feitos nada diferentes das referências da equipe. A médica e cantora Marília, a publicitária Marcela, a vendedora de tapioca Dani e Ilka, todos deslizam no mesmo sentido. A última, mãe por si só, divide-se entre a quadra e o filho, com lugar cativo na arquibancada, de onde vê treinos e o plano salvador sair do papel, em cada atividade marcada.

Como quase sempre ocorre, a falta de dinheiro é empecilho. Mas Ana Júlia, desde cedo, se adequa aos caminhos para finalizar projetos vitoriosos mais para frente. No amadorismo, principalmente, o sacrifício faz parte.

– Eu sou criança, adolescente, não entendo muito dessas coisas, e aí fico querendo ajudar. Pô, queria estar juntando, fazendo o melhor que eu posso. Eu estou fazendo o melhor que eu posso. Eu estou divulgado, gravei um vídeo pedindo ajuda – explica Ana Júlia.

Ao lado de uma questão natural, escrita em cima das vitórias e das conquistas, Anny reforça a guerra particular, de todas, para reviver tempos de glória do hóquei, quando lotar quadras e contar com estrutura maior e mais valorizada era regra, de modo algum, exceção. Um passo importante. Uma nova era? Elas confiam nisso.

– Todo campeonato, você vai lá. O pessoal fala, eu falo: “Vou lá para ganhar, né”. Hoje, a gente vai para o hóquei ter um futuro – finaliza Anny.